O material a seguir é um excerto de um ambicioso projeto de reestruturação dos programas de educação profissional básica do Senac Rio. O trabalho envolveu a revisão da programação de nove áreas profissionais do Senac Rio, entre elas a de Turismo e Hospitalidade.
Deste trabalho já publicamos um excerto da área de Administração e Desenvolvimento Empresarial.
Uma das caracterísiticas fundamentais do trabalho foi a articulação dos curículos da educação profissional básica com os da formação técnica de nível médio.
O resultado do projeto foi publicado em um CD-ROM denominado O Futuro Começa Aqui. A Germinal Consultoria assessorou a elaboração e o desenvolvimento de todo o projeto.
O Processo de Construção do Trabalho
A construção pedagógica do Senac Rio tem como característica primordial estar embasada não apenas nas teorias educacionais, mas na prática diária de uma instituição que respira educação profissional. A Proposta Pedagógica da instituição foi construída aproveitando esta característica.
De forma similar, o presente trabalho foi elaborado a partir de vários encontros de toda a estrutura organizacional e operacional do Senac Rio, e partindo de discussões que mobilizaram todas as Unidades, Centros e Gerências. A partir dos problemas identificados, em todos os níveis da Instituição, para a construção de uma programação de qualificação eficiente e com diferencial qualitativo, passou-se a trabalhar com Pesquisa Qualitativa. Ao fazê-lo, tinha-se como objetivos:
· Subsidiar a reformulação dos Programas de qualificação e suplementação adequando-os a nova proposta pedagógica e mantendo-os em sintonia com o mercado;
· Ter uma visão de futuro da área;
· Conhecer a demanda de mercado;
· Definir os contornos valorativos do segmento de mercado a ser atendido por um produto ou serviço;
· Ajustar esses produtos e serviços aos desejos e aspirações do público alvo;
· Definir o perfil adequado dos docentes;
· Ampliar o poder de atuação;
· Identificar as competências necessárias para o profissional de cada área;
· Conhecer a concorrência; e
· Ter uma visão estratégica de ação educacional.
Na realização do trabalho, foram investigados as motivações e as tendências do mercado tanto em relação à oferta quanto á demanda para postos de trabalho, a partir de entrevistas abertas, direcionadas para grupos focais heterogêneos, compostos por docentes, participantes e especialistas do mercado. Nas conclusões finais, outros dados, obtidos em órgãos de referência da área, foram agregados. Também foram utilizadas pesquisas estatísticas e uma variada bibliografia.
A pesquisa qualitativa mostrou-se um instrumento bastante eficaz para renovar o olhar para todos os tipos de interesses e atividades humanas e compreendê-los. O desenho de cenários amplos permite a percepção do novo que se encontra em evolução sob o manto do cotidiano. Para a Pesquisa Qualitativa, foram constituídos grupos focais por subárea de atuação. Esta divisão facilitou identificar as características do participante interno e externo, perceber as novas áreas que estão surgindo com as mudanças do mercado, compreender os pontos fortes e fracos da imagem institucional e os pontos sujeitos à reformulação.
A Construção da Árvore
A árvore do conhecimento manifesta e sistematiza a visão que uma determinada instituição educacional tem do processo educativo do profissional, do homem e do cidadão.
A organização curricular do Turismo e Hospitalidade é flexível, com módulos bem definidos, oferecendo diversificados itinerários de Educação, com possibilidade de exames de certificação das competências, para aproveitamento de estudos, ao longo dos caminhos e ao fim dele. Na organização curricular, os módulos iniciais e comuns, em sintonia com o perfil de saída das qualificações básicas, funcionam como berços para saídas dos Programas de qualificação para ocupações reconhecidas pelo mercado de trabalho.
Cada Programa de qualificação básica foi desenhado com as Ações Educativas que o compõe. Algumas dessas Ações Educativas são produtos educativos independentes que podem ser cursados separadamente. Podem, ainda, ser componentes de outro Programa de qualificação básica, criando a desejável flexibilidade dos itinerários. Podem, por fim, somadas com outras Ações Educativas, constituir uma nova alternativa educativa, possibilitando uma construção individualizada dos currículos.
A programação de Programas livres do Turismo e Hospitalidade, desta forma, baseia-se em uma articulação de um conjunto de perspectivas. A programação atende a perspectiva de integração sinérgica dos programas (Programas) e das diversas modalidades de programas (habilitação técnica, qualificação técnica, qualificação básica, aperfeiçoamento, e, futuramente, Educação tecnológica).
A programação do Turismo e Hospitalidade atende à perspectiva de uma mudança curricular radical ajustada às demandas dos novos tempos, sem perder o contato com a rica tradição do Senac Rio na oferta de educação profissional. A programação está sintonizada com a perspectiva de atender às necessidades de mercado, identificadas a partir de pesquisas qualitativas e outras referências, sem perder de vista a possibilidade de exercer uma ação transformadora em relação a esse mercado.
A programação a seguir é mais uma oportunidade de colocar em prática a Proposta Pedagógica do Senac Rio. Atende, nesse sentido, ao conjunto dos dez princípios que resumem a proposta. Contempla especialmente o princípio de manter uma relação dinâmica e transformadora entre o contexto e a educação profissional do Senac Rio para o desenvolvimento de produtos que atendam às necessidades e tendências do desenvolvimento social e do mercado. ( 1 )
Dá uma atenção privilegiada ao princípio de ampliar a participação dos atores sociais e as áreas de atuação, atualizando e diversificando permanentemente os programas (princípio 6). Finalmente, é a concretização da perspectiva de desenho curricular inserida na proposta, em especial:
Queremos o desenho de um currículo flexível. Um currículo que acompanhe o momento presente e a velocidade das mudanças. Um currículo adequado aos grandes movimentos do trabalho e ajustado às demandas regionais. Entendemos que o desenho ideal de um currículo é aquele que permite ao participante o controle e a responsabilidade pela construção de seu aprendizado. Queremos um currículo modular.
Apresentação e Justificativa
A apresentação e a justificativa do Plano de Curso do Centro de Turismo, Hotelaria, Entretenimento e Lazer, dado o número e a complexidade das áreas e subáreas abrangidas pelo Centro, será feita contemplando as especificidades das áreas, de um lado, e o processo de elaboração do plano, que foi comum para todas as áreas e subáreas, de outro. De início, são apresentadas as indicações de mercado, divididas pelas subáreas.
Subáreas de Agenciamento e Condução de Grupos e seu contexto
Embora o mercado de turismo esteja em franca expansão, as áreas de agenciamento e condução de grupos não acompanham este movimento. O trabalho do Guia de Turismo como prestador de serviços para agências de turismo, como dita a legislação em vigor, vem sendo superado pelo trabalho do Guia Agenciador, aquele que organiza, opera, vende seus programas, roteiros e guia seus próprios grupos de turistas.
As atribuições do Agente de Viagens vêm sendo transformadas para acompanhar as mudanças no mercado, como por exemplo, os acessos disponibilizados pela Internet para a aquisição de serviços turísticos, a diminuição das comissões, etc. No lugar do intermediador de serviços, vendedor de serviços de terceiros, surge o consultor especializado, o assessor de serviços ao turista, profissional que tem mais responsabilidades junto ao seu participante e mais competências a serem desenvolvidas.
As atuações especializadas, dentro dos diversos segmentos turísticos, estão consolidando-se como estratégia de marketing e resposta às exigências cada vez mais diferenciadas do mercado. Podemos constatar agências, operadoras e guias especializados em turismo religioso, ecológico, terceira idade, compras, cruzeiros marítimos, etc.
O turismo receptivo vem sendo repensado e reavaliado para que, como modalidade fundamental que é, possa ocupar a sua posição de destaque e empregabilidade potenciais.
O mercado assimilou e atua de acordo com a legislação que prevê que o Guia de Turismo tem que ser cadastrado na Embratur. O cadastro de Guia vai ser obtido após a conclusão de Programa credenciado, conforme legislação em vigor.
O emissor de bilhetes iniciante tem a certificação como uma carta de referência. Vale ressaltar que neste segmento, a competência na utilização de ferramentas informatizadas de forma geral vem se sobrepondo à necessidade de competência específica referente à emissão de bilhetes. A emissão de bilhetes está sendo informatizada, sendo utilizados softwares cada vez mais simples e accessíveis, tornando a emissão manual cada dia mais obsoleta e dentro em pouco não mais aceita.
O agente de viagens e o operador vêm buscar na certificação um embasamento para atender mais a uma necessidade pessoal do que uma exigência do mercado. Observa-se, ainda que de forma incipiente, uma movimentação para que seja exigida uma certificação para o profissional que atua em agência de turismo.
Os levantamentos efetuados e as exigências legais existentes permitem identificar as seguintes necessidades de qualificação profissional básica:
· Recepcionista Turístico;
· Operador de Turismo Receptivo;
· Agente de Viagens e Turismo;
· Guia Regional;
· Guia de Excursão Nacional;
· Guia Internacional;
· Guia Especializado em Atrativos Turísticos Naturais;
· Gerente de Agência de Viagens; e
· Emissor de Passagens Aéreas.
A sub-área de Alimentos e Bebidas e o seu contexto
Se o turismo é uma mola propulsora para o setor terciário movimentando negócios e criando novos postos de trabalho, o setor de A & B é uma das subáreas mais importantes, empregando 60% da força de trabalho do setor de Comércio e Serviços. A demanda por profissionais qualificados é impulsionada pela necessidade de diversificação e sofisticação de cardápios.
O mercado de A & B, até recentemente, contratava profissionais com baixo nível de escolaridade e sem qualificação prévia. Atualmente, o nível de exigência vem sendo cada vez maior. Agora já é necessário que os candidatos a tais postos de trabalho tenham, no mínimo, o Ensino Fundamental. Sabe-se, no entanto, que o domínio de uma língua estrangeira deverá ser acrescido a tal exigência.
A expansão do setor tem aumentado também o nível de exigência quanto à Educação profissional específica. Hoje, não basta apenas o domínio de competências estritamente ligadas ao fazer diário. O mercado já exige, para o acesso, pessoas capazes não só de atender aos serviços próprios do ofício, mas também com capacidade de exercer funções de planejamento, gestão, promoção e venda de serviços de alimentos e bebidas.
Desta forma, a oferta de qualificação para a subárea de Alimentos e Bebidas precisa ter como alvo ampliar o papel dos profissionais da área, exigindo cada vez mais que estejam preparados para dar soluções econômicas, técnicas e sociais às principais questões do setor turístico e hoteleiro.
Na subárea, foram identificadas as seguintes ocupações no mercado:
· Ajudante de Cozinha;
· Cozinheiro Nível I;
· Cozinheiro Nível II;
· Pizzaiolo;
· Chef Internacional;
· Chef Internacional Master;
· Confeiteiro;
· Patissier;
· Garçom;
· Maitre;
· Barman;
· Sommelier;
· Gerente de A & B; e
· Hostess.
Subárea Hospedagem e seu contexto
O processo produtivo no setor de Hospitalidade está voltado para a criação e oferta de produtos e prestação de serviços. A evolução das modalidades de hospedagem, o desenvolvimento do setor, os processos eletrônicos de informação acentuam a necessidade de Educação de pessoal para atuação em outros meios, que não apenas os hotéis, bares e restaurantes, mas também hospitais, escolas e outros serviços interligados ou autônomos como clubes, bufês e distribuição de alimentos em pontos de venda.
A expansão do setor, portanto, impõe o acesso de pessoas capazes não só de atender aos serviços específicos, mas também com capacidade de exercer funções de planejamento, gestão e promoção e venda de serviços de alimentos e bebidas e de hospedagem.
A indústria hoteleira é responsável pela movimentação de U$ 1 bilhão por ano. A expansão deste segmento, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH, prevê até o ano de 2003 a construção de 220 novos hotéis e o emprego de 14.000 pessoas. No Brasil, existem cerca de 18 mil meios de hospedagem que faturam por ano US$1,5 bilhão. Com esta atividade o governo arrecada mais de US$ 400 milhões com a cobrança de taxas e impostos, de acordo com a ABIH.
O mercado nacional de hotelaria e turismo é responsável por 3,5% do PIB, com faturamento anual de R$ 53 bilhões e potencial para R$ 221 bilhões nos próximos dez anos, começa a registrar um boom de investimentos das principais redes do setor. De acordo com a EMBRATUR só nos próximos três anos, desembarcarão no País investimentos da ordem de US$ 6 bilhões. Os 300 hotéis em construção vão gerar cerca de 600 mil empregos diretos e indiretos.
Existem cerca de dez mil hotéis instalados no Brasil, dentre esses estima-se que entre 5% e 7% são de marcas internacionais (Embratur). São elas que mais investem em modernização e ampliação do mercado. Entre as redes que mais estão apostando no Brasil, destaca-se a Espanhola Sol Meliá; a francesa Accor e as americanas Marriott e Choice Hotels (comanda as marcas Sleep Inn, Confort, Quality e Clarion).
Para atender a mudança do perfil profissional e as exigências de um turismo em expansão e mais competitivo, a oferta de qualificação para a subárea de Hospedagem precisa ter como alvo ampliar o papel dos profissionais da área, exigindo cada vez mais que estejam preparados para dar soluções econômicas, técnicas e sociais às principais questões do setor turístico e hoteleiro.
Na análise do mercado foi identificada a necessidade de qualificação profissional básica para as seguintes ocupações da subárea de Hospedagem:
· Camareira;
· Supervisora de Andar;
· Governanta de Hotéis;
· Recepcionista de Hote;l
· Auxiliar de Reservas;
· Guest Relations;
· Gerente de Pousadas; e
· Taifeiro.
A área de Lazer e Entretenimento e seu contexto
A área de Lazer e Entretenimento apresenta como principal cenário o crescente aumento do tempo livre. Essa é uma tendência verificada atualmente em quase todos os países, não obstante os diferentes graus de desenvolvimento.
Desde a revolução industrial, a redução da jornada de trabalho é a principal reivindicação dos movimentos sociais. Tal fato se constituiu no principal fator contribuinte para o aumento do tempo livre, e que, hoje, é reservado ao entretenimento e ao lazer nos fins de semana, feriados, férias e aposentadoria.
Dessa forma, surgiu a economia do tempo livre. Esse setor econômico está hoje estruturado em três grandes grupos que procuram atender as diferentes necessidades recreativas dos indivíduos. São eles:
· Os meios de comunicação – televisão, cinema, jornais, revistas, jogos eletrônicos, vídeo, publicidade e outros;
· O Turismo e a Hotelaria; e
· A comunicação interpessoal – a chamada área da recreação.
Atualmente, os indivíduos são preparados apenas para o trabalho e sentem dificuldades em vivenciar as potencialidades desse tempo livre no cotidiano. Com isso, os governos, as empresas privadas e as empresas do terceiro setor desempenham um papel de destaque na área criando, a todo momento, produtos novos e diferenciados.
O entretenimento no dia-a-dia também exige estruturas e apoio, que se configuram como serviços comerciais e não-comerciais onde o indivíduo desfruta o melhor do seu tempo livre em diferentes pontos do espaço antrópico e natural.
Existe hoje uma recreação sistematizada pelo setor público em pelo setor privado para grandes, médios e pequenos grupos de todas as faixas etárias. No setor público, a maioria dos cinco mil municípios brasileiros possui um ou mais órgãos que cuidam da criação e da animação de espaços recreativos. No setor privado, os investimentos estão concentrados em parques temáticos, em shoppings centers e shoppings de lazer (casas de jogos eletrônicos).
Nesse panorama econômico, que interessa diretamente a esta área, foram identificadas as seguintes necessidades de qualificação profissional básica para as seguintes ocupações:
· Recreador Infantil;
· Recreador para Idosos;
· Recreador para Hotéis;
· Recreador Hospitalar;
· Recreador para Creche;
· Recreador para Portadores de Deficiência;
· Recreador para Empresas;
· Recreador para Parques Temáticos;
· Animador de Festas Infantis;
· Produtor e Marketing Cultural; e
· Animador Cultural.
Subárea Eventos
É comum ouvir-se falar ou participar de algum evento de caráter popular, como festas religiosas, cívicas ou comemorativas de datas representativas de um município. Mas os eventos não se restringem apenas a essas manifestações. Evento é qualquer acontecimento social programado para tratar dos mais diversos assuntos, sejam eles políticos, culturais, científicos, comerciais, profissionais, entre outros.
Ao longo do tempo, os eventos foram se firmando como sinônimo de sucesso, sendo um excelente meio de divulgação e proporcionando a troca de experiências que pode levar ao enriquecimento do conhecimento. Na sociedade atual, é um rePrograma cada vez mais adotado, quer por associações de classe, quer por empresas, para a difusão de técnicas e conhecimentos ou até como forma de decidir sobre questões de interesse dessas organizações.
Seja qual for a sua natureza, os eventos reúnem grupos de pessoas em torno de um mesmo objetivo e muito ajudam a desenvolver o turismo. Afim, atraem pessoas de outras cidades ou regiões, incentivam a economia e enriquecem a vida cultural da cidade onde são realizados. O setor hoteleiro também é beneficiado, o que faz com que grande parte dos hotéis tenha instalações especialmente destinadas a esses acontecimentos.
É importante destacar que o crescimento do interesse por essa atividade cria oportunidades para profissionais preparados para as funções de planejamento e organização de eventos, o que representa uma expansão significativa do mercado de trabalho.
Considerando o caráter prático da Educação do pessoal para atuar no setor de eventos, o Senac Rio em seus Programas de qualificação na área, trata de todos os elementos fundamentais à organização e promoção de eventos, desde o momento do levantamento das reais necessidades para a sua produção até o fechamento e a avaliação de todo o processo de realização.
A Educação do profissional responsável por eventos é complementada por atividades práticas, onde se pode aprimorar cada vez mais. O estudo, o aperfeiçoamento e o trabalho bem realizados certamente irão favorecer suas perspectivas de atuar nesse setor de atividades com um elevado padrão de desempenho profissional.
No levantamento de mercado, constatou-se a necessidade de qualificação profissional básica para as seguintes ocupações do mercado:
· Recepcionista de Eventos;
· Coordenador de Eventos;
· Organizador de Eventos; e
· Decorador de Eventos.
Notas
(1) Princípio 5 – Em Relação ao Contexto – Proposta Pedagógica do Senac Rio. Ver em: Senac Rio, Construindo a Proposta Pedagógica do Senac Rio, Rio de Janeiro, Editora Senac Rio, 2000.
1 comentário
e muito importante este material para que trabalha na área de turismo principalmente para as pessoas que estão fazendo curso.