6 de novembro de 2008

Supervisores: Administração de conflitos e negociação

 

Este é o quarto de um conjunto de posts relacionados, onde estamos apresentando a metodologia utilizada em  um amplo e modular Programa de Formação e Desenvolvimento de Supervisores de Primeira Linha, desenvolvido e inicialmente implementado em parceria da Germinal com o SENAC de São Paulo.

 

O programa foi desenhado a partir de um estudo em profundidade sobre as necessidades estratégicas de desenvolvimento profissional do supervisor de primeira linha, desenvolvido para a ABTD.

 

Foi implementado em empresas como: Villares, Belgo-Mineira, Cosmoquímica, Macsol, Caio, Metalúrgica Nova Americana, … Com alterações também foi implementado na COPENE, hoje Brasken.

 

É um Programa exemplar da perspectiva da Germinal de aproximar os universos da cultura e do trabalho, como forma de facilitar a aprendizagem significativa e a construção criativa do conhecimento. O Programa é composto por sete módulos, com duração de 30 horas cada um. Para o desenho metodológico, cada módulo do Programa tem uma arte como referência, como mostra o quadro a seguir.

 

 
Programa de Desenvolvimento de Supervisores
 
Módulo
Arte de Referência
1. Supervisão e Trabalho Participativo
Teatro
2. Desenvolvimento do Papel de Supervisão e Chefia
Dramaturgia
3. Supervisão e Relações de Trabalho
Artes Plásticas
4. Administração de Conflitos e Negociação
Jogo Dramático
5. Desenvolvimento de Recursos Humanos
Literatura
6. Supervisão e criatividade de grupo
Música
7. Elaboração de Planos de Autodesenvolvimento
Poesia

 

Todas as formas de arte, citadas na coluna “Arte de Referência” são utilizadas simultaneamente em todos os módulos no Programa. Em cada módulo, no entanto, uma específica forma artística é usada como modelo ou como eixo do desenvolvimento metodológico. Além do conteúdo apresentado na primeira coluna, é isso que distingue um módulo do outro: a forma artística que articula a utilização das demais artes. A utilização intensiva da arte para efeitos didáticos é uma das inovações do Programa.

 

No Módulo IV, Administração de Conflitos e Negociação,  o jogo dramático exerce um papel articulador. 

 

 Para justificar a inclusão do jogo, como forma de arte, leia:

 

“Não foi difícil mostrar a presença extremamente ativa de um certo fator lúdico em todos os processos culturais, como criador de muitas das formas fundamentais da vida social. O espírito de competição lúdica, enquanto impulso social, é mais antigo que a cultura, e a própria vida está toda penetrada por ele, como por um verdadeiro fermento. O ritual teve origem no jogo sagrado, a poesia nasceu do jogo e dele se nutriu, a música e a dança eram puro jogo. O saber e a filosofia encontraram expressão em palavras e formas derivadas das competições religiosas. As regras da guerra e as convenções da vida aristocrática eram baseadas em modelos lúdicos. Daí se conclui necessariamente que em suas fases primitivas a cultura é um jogo. Não quer isto dizer que ela nasça do jogo, como um recém nascido se separa do corpo da mãe. Ela surge no jogo, e enquanto jogo, para nunca mais perder esse caráter” (Huizinga, J. Homo Ludens. São Paulo, Editora Prespectiva, 1993, p. 193).
 

 

 

 

 

 

  

A METODOLOGIA DO MÓDULO

Alexander Calder, Day and Night Saucer, 1969, Gouache on paper, 44 1/2 x 30 1/2 inches

Alexander Calder, Day and Night Saucer, 1969, Gouache on paper, 44 1/2 x 30 1/2 inches

 

 

 

A metodologia do módulo Administração de Conflitos e Negociação assenta-se sobre o jogo e a analogia. O jogo, enquanto base metodológica, explica-se pelo objeto de estudo, ou seja: o conflito no interior das organizações de trabalho. Sendo um conteúdo de vivência aversiva (a princípio), o jogo possibilita abordá-lo em campo mais relaxado, reduzindo a tonalidade afetiva adversa.

 

Definido o conflito como uma disputa entre duas ou mais partes em torno de um alvo comum, as relações entre o conflito e o jogo tornam-se plausíveis. Vista, por outro ângulo, a negociação como uma forma aceita e muitas vezes regulamentada de operar sobre o conflito no interior das organizações, pontes com o jogo estruturado podem ser estabelecidas. À contraposição que postula a negociação como um processo onde as regras são muitas vezes implícitas e variáveis, pode-se argumentar que nesse caso a negociação guarda similaridades com o jogo espontâneo, onde as regras vão sendo construídas no próprio curso de interação entre os envolvidos.

 

Entendido o conflito nas organizações, análogo metaforicamente a um jogo coletivo, a negociação seria, então, uma forma (estruturada ou não) de jogá-lo.

 

 

 

 

 

 

 

 ANALOGIA METAFÓRICA

 

Alexander Calder, Emerging Globes, 1971, Gouache on paper, 23 x 30 3/4 inches
Alexander Calder, Emerging Globes, 1971, Gouache on paper.

“O termo análogo é aquele que convém a diversos sob um ponto de vista em parte idêntico e em parte diferente.” (S. Thomas de Aquino)

 

A analogia estabelecida no módulo entre conflito e jogo e entre negociação e forma de jogar, tem que ser entendida como metafórica, ou seja, efetuada através de uma construção intelectual, continuamente elaborada pelo próprio jogo e continuamente solicitada aos participantes no transcurso do treinamento.

 

No desenho do jogo, equipe A defronta-se com equipe B, analogamente à Gerência e Força de Trabalho. Assim como há um conflito básico permeando as relações de trabalho e iluminando o sentido dos conflitos secundários, no jogo se propõe uma disputa fundamental. A divisão básica do trabalho nas organizações modernas (nível estratégico, transmissão e nível operacional) é analogamente representada pelos papéis estabelecidos no interior de cada equipe (Diretoria, Técnico, Jogadores).

 

A partir dessas e outras analogias fundamentais, a metodologia do módulo procura suscitar o pensamento analógico dos participantes, no sentido de que a reflexão sobre a vivência do jogo suscite a reflexão sobre a vivência no trabalho. No sentido, incluso, que as conclusões formuladas no treinamento possam ser transpostas para o cotidiano.

 

 

 

 

 O JOGO

 

O jogo proposto está estruturado nos moldes de um torneio de futebol entre duas equipes (A e B). O torneio é composto por uma série de rodadas, cada uma envolvendo um ou mais jogos construídos nos moldes de uma partida de futebol.

 

Nas regras de cada jogo o conteúdo é introduzido. No desenvolvimento do jogo o conteúdo é vivenciado. Na conclusão da rodada o conteúdo é sistematizado. Desta forma, cada rodada é composta de três tempos:

 

a)     Introdução: onde o conteúdo básico é apresentado ao participante, no formato de regras do jogo.

 

 

      Desenvolvimento: onde os jogos são realizados e durante os jogos o conteúdo é vivenciado e subjetivamente ampliado (Jung).

 

      Conclusão: onde o processo e os resultados dos jogos são analisados pelos jogadores e onde, via atividade dramática de imprensa, o conteúdo é revisto e sistematizado.

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6 Comentários

  1. Boa tarde,

    Também gostaria de ter acesso ao jogo para trabalha-lo em uma apresentação que preciso realizar amanhã. Seria possível realizá-la em 15 minutos? Pois esse é o tempo que tenho para falar sobre Administração de conflitos nas organizações e gostria de um idéia mais criativa e interatividade da turma.
    Aguardo retorno.
    Desde já obrigada!!!

    • Flávia

      Infelizmente acho que o jogo não vai atender aos seus interesses e necessidades. Não pode ser realizado no formato de uma palestra, pois exige intensa participação de todos, e não cabe no tempo de 15 minutos. O jogo se desenrola em toda a duração de um módulo de desenvolvimento de supervisores e chefias entermediárias com 30 horas de duração.

  2. Prezados, gostaria de saber se possuem esse jogo de futebol estruturado para trabalhar essa temática: Administração de conflitos. Com as considerações que podem ser trabalhadas em cada fase.
    Aguardo,
    obrigada!

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