29 de novembro de 2013

Primeira estadual ocupa apenas a 125ª Posição entre as escolas públicas do Enem

 

Ocimara Balmant e Maria Fernanda Ziegler – iG Último Segundo – 28/11/2013 – São Paulo, SP

O ranking das escolas públicas do Enem 2012 mostra a disparidade de notas que há dentro do sistema. Apesar de a primeira pública – o Colégio de Aplicação de Viçosa (MG) – aparecer em 3º lugar na classificação geral de escolas, ela representa muito pouco do universo dos estudantes do ensino médio público: os 5% que estudam em instituições federais ou nos colégios técnicos estaduais.

A grande maioria dos estudantes da rede pública, cerca de 95%, estuda nas escolas estaduais regulares, e essas estão muito longe do topo da lista. A primeira colocada do Enem 2012 – a EE Dom Aquino Correa, localizada em Amambai, no interior do Mato Grosso do Sul – ocupa apenas a 125ª posição entre as públicas, atrás de 124 federais ou técnicas estaduais, que selecionam seus alunos com vestibulinhos.

Se for levado em consideração o ranking geral, com os colégios particulares incluídos, a melhor escola estadual regular cai para 1.774 entre as 11.240 mapeadas pelo exame. A segunda colocada, a EE Gomes Carneiro, de Porto Alegre, ocupa apenas a 248ª posição entre as públicas e a 2.112ª na classificação geral.

Para a diretora da ONG Todos Pela Educação, Priscila Cruz, o entendimento desse cenário vai além do simples rendimento em português e matemática. “Sempre que a gente ranqueia, está classificando também a realidade socioeconômica. As escolas federais e técnicas congregam estudantes de família com menos vulnerabilidade e, além disso, fazem processo seletivo, o que já garante a escolha dos melhores”, diz Priscila.

“Soma-se a isso a melhor estrutura física, o maior custo alunos e os professores mais capacitados e é fácil ver como tudo converge para que liderem o ranking”, conclui.

Mudar essa situação, diz a especialista, implica em repensar a estrutura de financiamento. “Enquanto não houver uma política de dar mais para quem tem menos, isso não vai mudar. É preciso mudar a divisão dos recursos públicos e proporcionar apoio técnico e pedagógico. Não tem milagre.”

Primeira estadual está em prédio emprestado

A primeira escola estadual no ranking do Enem, a EE Aquino Correa, de Amambaí (MS), ainda não tem prédio próprio. A escola de 59 anos já teve que mudar várias vezes de endereço e hoje está situado em um prédio emprestado pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS). “Acreditamos que o prédio novo fique pronto só no ano que vem”, conta a diretora da unidade, Vilma Oliveira da Cruz.

Tanto a escola que dirige, como a segunda colocada no ranking das estaduais regulares seguem estratégias parecidas com as usadas por escolas privadas: turno estendido e trabalho conjunto entre alunos, pais e professores.

Para conseguir a média de 578,63 a Aquino Correa tem uma turma só de 3.º ano do ensino médio e foi a primeira do Estado a ampliar a carga horária das aulas e trabalhar o sexto tempo.

“Acredito que o resultado tenha relação com o interesse dos nossos alunos, a participação dos pais e o trabalho de professores e coordenadores”, diz Vilma. No ano passado, a escola foi a primeira do Estado no Ideb, com nota 7,5, meta prevista apenas para 2021. Como não há prova para selecionar os alunos que vão entrar na escola, é comum haver fila para a matrícula.

Na segunda colocada entre as estaduais regulares, a Gomes Carneiro, de Porto Alegre (RS), os alunos têm além do turno regular, eles têm um dia de aula no contraturno e, em um dia da semana, aula noturna. Para Cristiane Vianna, vice-diretora da escola, o bom desempenho no Enem se deve exatamente à expansão do horário de aula desde 2002.

A escola também tem uma forma de avaliar diferente. No lugar de notas, a avaliação é feita a partir de objetivos alcançados e cabe ao professor fazer um parecer descritivo para mensurar o conhecimento de cada aluno, destacando se cada objetivo foi alcançado ou não. “Uma nota 5; 5,5; 5,7 ou 8 não diz nada. Aqui uma prova tem 5 objetivos, por exemplo, e o professor vai ver se o aluno atingiu os objetivos, ou atingiu parcialmente ou não”, diz Cristiane.

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