6 de agosto de 2015

Lista de cem melhores escolas não traz nenhuma estadual

Clipping Educacional – 06.08.2015

Bernardo Miranda / Luciene Câmara – O Tempo – 06/08/2015 – Belo Horizonte, MG

O resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) revelou uma enorme desigualdade entre as escolas frequentadas por ricos e pobres no Brasil. Os dados divulgados nesta quarta pelo Ministério da Educação (MEC) apresentaram pela primeira vez o nível socioeconômico dos alunos que frequentam cada unidade. Para se ter ideia da discrepância, a instituição mineira com alunos de classe alta que conseguiu o pior desempenho no exame teve nota maior do que a instituição com a melhor pontuação entre as frequentadas por estudantes de baixa renda.

O Colégio Maria Clara Machado, em Belo Horizonte, teve a pior nota entre a classe de nível muito alto, com média de 507,01. Mesmo assim, a nota é maior que a da Escola Estadual José de Oliveira, em Santana do Garambéu, no Campo das Vertentes, que alcançou a média de 507,00 e foi a mais bem colocada entre as unidades de nível socioeconômico baixo.

Como vem acontecendo nos últimos anos, mais uma vez as escolas que lideraram o ranking são particulares, com mensalidades no terceiro ano de até R$ 1.600. Em Minas, entre as dez melhores, apenas uma é pública. Porém o estudo revelou que mesmo as escolas públicas de excelência são majoritariamente ocupadas por alunos dos níveis muito alto e alto. Entre as dez melhores escolas públicas do Estado, todas são federais, que em sua maioria aceitam estudantes por meio de prova de seleção. Em seis delas, a maioria dos alunos está classificada com nível socioeconômico alto. Em outras três, o nível é muito alto, e em uma, médio-alto.

Reflexo. Na avaliação de Tufi Soares, professor do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), esse resultado quantifica a desigualdade vivida na própria sociedade brasileira. Ele pondera, porém, que, além da qualidade da escola, um dos fatores que ajudam a manter essa diferença é o capital cultural de famílias de nível socioeconômico mais alto. “Os filhos de famílias mais ricas contam com orientação educacional melhor dos pais. Por isso tendem a valorizar mais seus objetivos educacionais. Já os alunos de classe baixa muitas vezes não recebem o incentivo educacional, até porque há casos em que o grau de escolaridade dos pais é menor que o do próprio estudante”.

Essa característica também pode explicar a presença de alunos da classe alta em escolas públicas de excelência, já que quem procura por essas vagas são famílias que demonstram preocupação com educação. “Muitas dessas escolas federais fazem seleção, o que já limita a possibilidade da entrada de aluno de baixa renda. E mesmo nos casos em que há o sorteio, a procura pela inscrição ainda será dominada por alunos mais ricos. Por isso é preciso pensar em formas de divulgação para fazer a inserção de jovens de baixa renda nessas escolas”, afirma Tufi Soares.

Educadores

Formação. Na avaliação de Tufi Soares, professor da UFJF, outro entrave a ser superado para melhorar o ensino público é a qualidade do professor. Para ele, é preciso investir na formação de novos docentes e melhorar sua remuneração.

Entenda os critérios

Critério. Para definir o nível socioeconômico dos alunos, o Ministério da Educação (MEC) levou em consideração vários critérios. Entre eles estão o grau de escolaridade dos pais, a renda familiar e os equipamentos nas casas dos estudantes, como televisão de tela plana e geladeira.

Níveis muito baixo e baixo. Os alunos enquadrados nesse critério são os que possuem bens básicos em casa, como apenas uma televisão a cores, um banheiro e no máximo dois quartos, além de renda familiar mensal de um salário mínimo e pais com grau de escolaridade do ensino fundamental incompleto.

Médio. Nesse caso estão os alunos que têm casas com duas ou mais televisões, uma geladeira, dois ou mais celulares, mas ainda apenas um banheiro. A renda familiar pode chegar a cinco salários mínimos, e os pais têm ensino fundamental completo.

Médio-alto e alto. São aqueles estudantes em que a renda familiar está acima de cinco salários mínimos e suas residências têm três quartos e até três banheiros, além de TV por assinatura e internet banda larga. Os pais desses alunos têm pelo menos ensino médio completo.

Muito alto. Neste patamar estão estudantes que em suas casas há duas ou mais geladeiras, três ou mais televisões e três ou mais carros. Eles possuem também empregada doméstica ou diarista por duas vezes ou mais por semana. Nesse caso, os pais têm ensino superior completo, e a renda familiar ultrapassa sete salários mínimos.

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