28 de junho de 2008

SESSÃO DE APRENDIZAGEM DE ORGANIZAÇÃO E ESTÉTICA DOS AMBIENTES

 

 O material publicado neste post refere-se a uma sessão de aprendizagem, retirada do Manual do Instrutor,  da Estação de Trabalho de Organização e Estética dos Ambientes , um dos componentes curriculares de uma versão alternativa do Programa de Educação para o Trabalho (PET), do Senac/SP. O programa é destinado a jovens em situação de busca do primeiro emprego. A versão alternativa foi criada pela Germinal e não chegou a ser publicada e implementada na forma aqui apresentada. O excerto deve ser encarado como uma amostra do trabalho que pode ser desenvolvido pela Germinal Consultoria.

 

Elysium, 1906,Watercolor and gouache on paper on board, 158 x 140 cm,State Tretiakov Gallery. Moscow, Leon Bakst, Arte-Deco

Elysium, 1906,Watercolor and gouache on paper on board, 158 x 140 cm,State Tretiakov Gallery. Moscow, Leon Bakst, Arte-Deco

 

 

SESSÃO II. A BUSCA DE OUTRO OLHAR E DE OUTRO PERCEBER

 

 

 Objetivos: Iniciar o trabalho com a subjetividade, enquanto um dos registros ecológicos e uma das possibilidades de mudança ambiental, a partir da instauração de uma estranheza que faça rever as formas habituais de percepção. Constatar e criticar a habituação do perceber. Promover a abertura dos sentidos. Fixar estratégias que possibilitem um olhar transformado e renovadas formas de perceber sobre os ambientes usuais e sobre os ambientes novos.

 

 

 

 

ATIVIDADE 1 . Rompendo hábitos de perceber

 “O hábito envolve o uso, que se transforma em usança e condiciona a habitabilidade urbana. Esse uso habitual torna ilegível o lugar urbano e inibe a locução verbal; ao contrário, para ler o ambiente é necessário romper aquele hábito e surpreender-se ante o local do dia a dia”. (Ferrara D’Alécio, Lucrécia, Olhar Periférico: informação, linguagem, percepção ambiental. São Paulo, USP, editora da USP, 1999, página 21.).

 

Yur Sene -Teia, Fotógrafos de Elvas

Foto: Yur Sene -Teia, Fotógrafos de Elvas

O coordenador inicia a sessão com a apresentação do segmento inicial do filme, dos irmãos Taviani, “Pai Patrão” (no segmento, o pai ensina o protagonista a ouvir, no campo, os barulhos da noite. A sequência referida vai até o momento em que o garoto carrega a lata de leite). Usando de procedimento semelhante ao do filme (fechar os olhos, concentrar-se…) o coordenador orienta a audição dos ruídos habitualmente não percebidos na sala de aula.

Feita a experiência, o coordenador solicita comentários sobre ela. Articula esses comentários com o relato e discussão do exercício proposto no final da primeira sessão. A discussão gira em torno da percepção habitual e da percepção diferenciada. Sobre os motivos da habituação e sobre as possibilidades e formas de superá-la.

 

 Pondo poesia no olhar e olhando com poesia

O instrutor projeta uma transparência com uma reprodução do quadro: Subúrbios da Cidade Paranóico–Crítica. Tarde nos Arredores da História Européia, de Salvador Dali.

 

Solicita, aos participantes, uma breve contemplação da reprodução do quadro e para que atentem para as sensações por ele produzidas. Distribui, a seguir, uma cópia do poema A Rua Destruída, de Pablo Neruda. A seguir, o coordenador divide os participantes em pequenos grupos (máximo de 4 integrantes) e solicita a leitura do seguinte texto:

Texto de apoio: A Rua Destruída

Pelo ferro injuriado, pelos olhos do gesso

passa uma língua de anos diferentes

do tempo. É uma cauda

de ásperas crinas, umas mãos de pedra cheias de ira,

e a cor das casas emudece, e estalam

as decisões da arquitetura,

um pé terrível enxovalha as sacadas:

com lentidão, com sombra acumulada,

com máscaras mordidas de inverno e lentidão,

passeiam os dias de alta fronte

entre casas sem lua.

 

A água e o costume e o lodo branco

que a estrela desprende, e especialmente

o ar que os sinos têm golpeado com fúria

gastam as coisas, tocam

as rodas, detem-se

nas tabacarias,

e cresce o cabelo vermelho das cornijas

como um longo lamento, enquanto na profundeza

tombam chaves, relógios,

flores assimiladas no esquecimento.

 

Onde está a violeta recém-parida? Onde

a gravata e o virginal zéfiro rubro?

Sobre as povoações

uma língua de pó apodrecido se adianta

a romper anéis, a roer pintura,

fazendo uivar sem voz as cadeiras negras,

cobrindo os florões do cimento, os baluartes

de metal destroçado,

o jardim e a lã, as ampliações de fotografias ardentes

feridas pelas chuvas, a seda das alcovas, e os grandes cartazes

dos cinemas onde lutam

a pantera e o trovão,

as lanças do gerânio, os armazéns cheios de mel perdido,

a tosse, as roupas de tecido brilhante,

tudo se cobre dum sabor mortal

    de retrocesso e umidade e ferida. (…)

A Rua Destruída, Pablo Neruda (Neruda, Pablo, Residência na Terra – II, tradução de      Paulo de Mendes Campos, Porto Alegre, L&PM, 1980, p. 27)

 

Distribuídos em pequenos grupos, os participantes vão comentar as sensações produzidas pelo quadro e pela leitura do texto de Neruda. Comparam também pintura e poema, observando diferenças e semelhanças no tom e no conteúdo. Se necessário, o coordenador facilita, nos grupos, a interpretação do texto.

Após a apresentação dos comentários dos grupos, o coordenador instiga uma discussão sobre as formas de ver do poeta e do pintor e das possibilidades de ver o belo no cotidiano (Dali) e de transformar em beleza uma visão do cotidiano (Neruda). Promove, enfim, um debate que articule esse momento com o anterior (olhar habitual x olhar diferenciado).

    

ATIVIDADE II: O dia da informação nova

Imagem S/N reproduzida do site titaferreira.multiply.com

Imagem S/N reproduzida do site titaferreira.multiply.com

O coordenador distribui uma cópia para cada participante e solicita a leitura do seguinte texto:

Texto de Apoio: O Dia da Informação Nova

Abandonemos a idéia de já ter visto tudo: “A verdadeira viagem de descoberta consiste não em procurar novas paragens, mas em ter novos olhos.” Marcel Proust

Tenho proposto aos meus alunos mais interessados um exercício interessante: decretar para si um dia dedicado à obtenção de novas informações, de toda a sorte. Ver, perceber e registrar novos locais, novas pessoas, novos detalhes do dia-a-dia, desde que se levanta, pela manhã, até a hora em que se irá dormir. Antes de se recolher, consultar a memória ou as suas anotações e fazer um balanço do que se conheceu de novo.

Quem faz esse exercício fica maravilhado com os resultados. Naquele dia, seu mundo mudou. Ficou mais colorido e interessante. Houve quem anotasse mais de duzentos registros. Contudo, o mais interessante é a surpresa que nasce no meio da manhã, quando o jogo começa a ficar cada vez mais estimulante.

Claro que é preciso uma determinação forte apoiada em alguma disciplina para não perder a concentração, em virtude das distrações que sempre ocorrem. Também é preciso ajudar o acaso: mudar de trajetos, variar de pontos de vista, olhar o que normalmente não se olha até por educação.

É preciso assumir o descondicionamento da criança e a curiosidade do turista e, de quebra, agir também como repórter. Se vocês ficarem curiosos, tentem. É uma experiência gratificante. Por um lado, descobrirão que tipos interessantes não estão só nos filmes de Fellini, e por outro, conhecerão uma outra cidade onde vocês já vivem.

 O Dia da Informação Nova (FAVA, P. F. Criatividade e Processo de Criação. Petrópolis, Editora Vozes, 1987, p.88.)

Depois da leitura,  solicita que os jovens saiam da sala e caminhem pelos arredores. Em cerca de 30 minutos, eles devem procurar ver coisas que ainda não tinham visto nos arredores. Ao mesmo tempo, devem procurar ver com olhos novos o que já tinham visto.

 

ATIVIDADE III. Tirando poesia do olhar

 

Paul Nash- Surrealismo, Palings, 1924-1925,Graphite, watercolour on paper,Height: 56.5 cm; Width: 38.8 cm,Courtauld Institute of Art, London, UK

O coordenador seleciona um fundo musical apropriado. Na medida em que cada participante retorne à sala, será recebido pelo coordenador. O coordenador solicita que o jovem permaneça em silêncio e escreva um pequeno poema sobre a experiência anterior. Tendo todos terminado, reunidos nos mesmos grupos da leitura do texto, os jovens lêem seus poemas, conversam sobre a vivência e fazem uma correção, do ponto de vista gramatical, do texto dos poemas. Por fim, preparam um painel com todos os poemas. Esse movimento encerra a sessão.

 

 Duração: 3 horas

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