21 de novembro de 2008

Anísio Teixeira: a poesia da ação

 

Iniciamos com um texto sobre  Anísio Teixeira, uma série de posts dedicados a homenagear os educadores brasileiros. Sobre Anísio, selecionamos uma pequena parte de um texto que gostaríamos de ter escrito: quase tudo pela forma e muito pelo conteúdo. Do texto – Anísio Teixeira: a poesia da ação – selecionamos a parte final. O texto completo pode ser lido, clicando aqui.

 

Na parte final do texto, ouvem-se ecos Deleuzianos. Nesse final, mais nele, o texto é dito com arte. Na sua forma, reafirma o que o texto inteiro diz sobre a importância da arte na educação. Assim, entra numa linha de convergência com a nossa proposta de Aprendizagem Criativa ou com o nosso texto já publicado: Como Trabalhar Metodologias na Educação Profissional.

 

 

 

 

Segmento final do texto – Anísio Teixeira: A poesia em ação

Por  CLARICE NUNES

 

O Anísio que está, nesse momento, entre nós não pretende cicatrizar feridas, mas reabri-las quando um falso conforto vem mascarar a nossa dor. Este estar entre revela o trânsito em que todos estamos, viajantes do mundo, ambíguos e incompletos, enfrentando a ausência de projetos, a carência de utopias, a constante necessidade de relativização da tarefa pedagógica e do exercício do humano. Este estar entre costura e descostura os fragmentos que vivemos e somos.

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Anísio já não é mais árvore, como pretendia, quando escreveu a Monteiro Lobato falando da secura feliz de apenas existir, sem mais nada desejar (Vianna & Fraiz,1986, p. 87). Anísio é rizoma. Espalha-se numa simultaneidade de rostos inventados a cada decisão que o acolhe. Ao mesmo tempo, escapa. Sempre: escolanovista, tecnicista, americanista, liberal, conservador, pioneiro, visionário, romântico, iluminista, comunista, reacionário.

Escapa Anísio, que és somente miragem, fragrância, estremecimento!

Volta Anísio! Volta: na poesia que reaparece como esperança após cada fracasso; na exigência de uma fraternidade que não se debruce no vazio, mas eleja como alvo nossas relações concretas no cotidiano; no resgate da memória e da história da nossa sociedade e da nossa educação; na generosa militância da cultura e no exercício digno da política; no diálogo da ciência com a arte; em projetos de educação que integrem a cultura e o trabalho.Volta na força que nos move na defesa de que a educação não é privilégio!

A obra de Anísio Teixeira é a sua própria vida. Para além dos elogios e das celebrações, o convívio com ela me ensina que, ao procurar desvendá-la, acabamos falando um pouco de nós mesmos. Corremos o risco de sucumbir à presunção e à arrogância, reduzindo e engessando o processo que vai da intimidade do sujeito à construção da ordem social. É necessário um laborioso investimento para nos libertarmos da couraça acadêmica que nós próprios construímos, tornando a existência sem brilho. O saber ilumina, mas a vida é tato.

Anísio Teixeira está entre nós! Não exatamente nas minhas palavras, ou nas nossas palavras, mas em algum ponto secreto e ignorado das nossas próprias consciências, na vibração sutil que nos move. Provavelmente no silêncio fecundo que em nós habita e que irradia dos nossos corações de educadores.

 

CLARICE NUNES doutorou-se em Ciências Humanas/Educação pela PUC-Rio. Professora titular em História da Educação, na Faculdade de Educação da UFF (aposentada). Atualmente vincula-se como pesquisadora ao Programa de Pós-Graduação em Educação dessa Universidade e é professora no Mestrado em Educação da Universidade Estácio de Sá.

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