A Germinal Consultoria tem significativa experiência em prestar assessoria no desenho e implementação de cursos técnicos de nivel médio.
Parte dessa experiência foi obtida no Senac/Rio. A Germinal ajudou a definir e acompanhou toda a estratégia de desenho dos curriculos e de implementação dos cursos técnicos daquele Regional do Senac. Já no primeiro movimento, em 2000, foram desenhados cerca de 30 diferentes cursos técnicos. A maioria desses cursos foi implementada em 2001 e continua, com pequenos aperfeiçoamentos, a ser oferecida até hoje (2008).
No desenho original, todos os cursos técnicos do Senac Rio foram desenvolvidos a partir de uma mesma estrutura comum. Esta estrutura curricular concretizava um conjunto de inovações educacionais que vale a pena destacar. Para connecer a estrutura básica dos cursos técnicos do Senac Rio, clique aqui.
1. Educação básica para o trabalho e para a cidadania
A legislação atribui ao Ensino Médio, como um todo, o objetivo de educação básica para o trabalho e a cidadania. O objetivo de preparação básica para o trabalho deve ser buscado pelo Ensino Médio mesmo quando ele não é profissionalizate. De forma básica, no mínimo, todo egresso do ensino médio deveria estar preparado para o trabalho. Segundo o Parecer CNE/CEB 15/1998, a educação básica para o trabalho, deve ser entendida como a base da formação de todos e para todos os tipos de trabalho.
É sabido, no entanto, que o Ensino Médio de caráter geral não realiza essa preparação básica para o trabalho. A maioria dos cursos técnicos de nível médio também não se preocupa com ela. A educação profissional , quando desenvolvida de forma concomitante ou seqüencial ao Ensino Médio, é geralmente desenvolvida a partir de um currículo centrado no desenvolvimento de competências técnicas específicas.
Todos os levantamentos e análises de mercado, no entanto, apontam que as competências básicas para o trabalho são muito importantes na obtenção do primeiro emprego e na manutenção dele.
A experiência da Geminal, no assesoramento da implementação de programas de educação básica para o trabalho, permite conclusão similar. Programas centrados nas competências básicas são efetivos na inclusão de jovens no mercado de trabalho. Superam inclusive os programas de qualificação destinados ao desenvolvimento de competências técnicas específicas para uma ocupação determinda.
Iniciativas como o Programa de Educação para o Trabalho (PET) do Senac de São Paulo, Portal do Futuro do Senac Rio e Trilha Jovem – Turismo e Responsabilidade Social do Instituto de Hospitalidade (IH) têm como resultado um número de jovens incluídos no mercado de trabalho em proporção superior aos convencionais programas de qualificação profissional.
Mais recentemente, também as competências ligadas ao exercício da cidadania vêm ganhando importância nos processos seletivos, especialmente nas grandes organizações.
Levando em consideração esses estudos, análises e constatações, no currículo das habilitações profissionais de nível médio do Senac Rio foi incluído um módulo para o desenvolvimento de competências básicas parao exercício de profissões do Setor de Comércio e Serviços: O Núcleo Básico de Comércio e Serviços.
O Núcleo abrange competências básicas para a vida (ser pessoa ou saber ser), para o exercício da cidadania (ser cidadão ou saber conviver) e para o trabalho (ser profissional ou saber fazer). Esta última dimensão é depois complementada pelo desenvolvimento das competências necessárias para o trabalho em uma determinada área profissional e, por fim, pelas competências requeridas por uma habilitação específica.
No desenho curricular proposto, a educação básica para o trabalho e a cidadania (LDBN – Artig.35, II) não é o que contextualiza o currículo, embora também o faça ou possa fazer. Não é resultado de um trabalho interdisciplinar, embora facilite a interdisciplinaridade. Também não é produto da “compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria com a prática, no ensino de cada disciplina” (LDBN – Art. 35, IV), embora possa se beneficiar disso.
É importante observar que se trata de uma inovação curricular. Ao conjunto de experiências de aprendizagem que resultam na educação básica para o trabalho é reservado um componente curricular específico. O projeto que articula o Núcleo de Comércio e Serviços – a edição do livro MInha Vida, Meu Trabalho – é também aquele que articula o currículo como um todo. A educação básica para o trabalho e cidadania não é a alma do currículo. É o coração dele. Isso será exemplificado em um artigo posterior.
2. Currículo integrado
Mais recentemente, a proposta do Parecer CNE/CEB 15/1998 tem sido questinada. A educação básica para o trabalho, como lá entendida, tem sido considerada insuficiente para a superação da histórica dualidade do Ensino Médio. O currículo integrado de formação geral e educação profissional tem sido proposto por muitos educadores.
Observa-se, no entanto, que um currículo do Ensino Médio em ato não é apenas dual. Ele é fragmentado em disciplinas desconexas e descontextualizadas. A contextualização e a interdisplinaridade, embora normativas, não são praticadas. Em geral, não há o que integre de forma efetiva as partes ou as disciplinas do currículo, quer sejam de formação geral ou de educação profisional.
Embora restrito à parte de educação profissional, os cursos técnicos do Senac Rio são um modelo de integração curricular. O perfil profisional de conclusão de cada curso é um primeiro fator de integração. Dele decorrem as unidades curriculares que compõem o Núcleo Básico de cada área e os Módulos destinados à terminalidade, com uma qualificação ou habilitação profissional específica.
Um segundo motor de integração é constituído pelos projetos. Eles articulam o currículo inteiro, como é o caso do livro Minha Vida, Meu Trabalho. Articulam também cada um dos módulos que compõem a estrutura curricular.
A arquitetura do currículo considera o projeto um componente curricular, com atribuição de carga horária para seu desenvolvimento. Atribui aos projetos o desenvolvimento das competências mais gerais e mais próximas do enfrentamento dos desafios e problemas da vida pessoal, cidadã ou profissional, especialmente as competências previstas no perfil profissional.
O currículo é completado pelas oficinas que giram em torno dos projetos, desenvolvendo as competências mais específicas ou os elementos de competência que vão ser requeridos pelas competências em desenvolvimento nos projetos. Esse desenho será mostrado em exemplo a ser postado posteriormente.
3. Aprender a aprender
O incíso IV do artigo 35 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional qualifica a educação profissional básica que se pretende. Ele diz: “preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar a novas condições de ocupação ou aprefeiçoamento posterior”.
Para continuar aprendendo é necessário que o educando adquira mecanismos próprios de aprendizagem. Na vida profissional, é necessário que seja capaz de extrair aprendizagem a partir do enfrentamento dos desafios cotidianos do trabalho e da adaptação aos movimentos dos processos produtivos em evolução. Isso só é possível a partir de um exercício continuado de cliclos de ação – reflexão e ação, que devem ser feitos em condições transitórias e cambiantes.
Em príncípio, as condições da aprendizagem do aprender são providas pela metodologia de ensino-aprendizagem, que deve ser desenhada para produzir tais efeitos. Em geral, é uma questão metodológica.
Aí também a estrutura curricular dos cursos técnicos do Senac Rio é inovadora. Ela qualifica os projetos a serem desenvolvidos, configurando-os para a facilitação do aprender a aprender. Os projetos que articulam a porção especificamente profissionalizante dos currículos, por exemplo, devem “criar, transformar ou melhorar as atividades do Setor de Comércio e Serviços, onde atuará o profissional de nível técnico em formação”.
Os projetos não devem recriar ou simular as condições de vida, de participação comunitária ou do futuro trabalho dos educandos. Eles devem envolver os participantes em processos de transformação de tais condições de vida, de excercío da cidadania e de trabalho. Eles não visam uma adaptação dos educandos à condições mutantes do mercado de trabalho. Eles visam preparar agentes de transformação.
Do enfrentamento dos desafios gerados no envolvimento em processos de mudança é que decorre a aprendizagem do aprender. A perspectiva pedagógica de fundo postula que só se aprende efetivamente, de forma própria e significativa, enfrentando os desafios da transformação pessoal, social ou produtiva.
O texto está ficando muito longo. Voltaremos ao tema oportunamente.
6 Comentários
Eu confirmo meu intressse em publicações que abordem o ensino tecnico no Brasil.
Obrigado
Prof. Eziquel de Lima
Bom dia
Achei interessante as considerações sobre educação e trabalho contidas neste material e como estou elaborando um projeto sobre cursos tecnicos e oportunidades de trabalho para os jovens dentro de um contexto onde diminuem os postos de trabalho pela própria flexibilização do mercado mundial, gostaria de receber mais informações e/ou materiais que abordem o assunto.
Além do e-mail institucional tenho outro:
eziquellima1954@yahoo.com.br
Agradeço antecipadamente,
Prof. Eziquel de Lima
Oi Bernardete
Gostaria muito de receber o seu material. Dependendo do teor dele, tavez eu tenha interesse em publicá-lo. É possível?
Estou pensando em criar uma categoria sobre o currículo integrado no ensino médio. Gostaria que ela fosse constuída de uma forma mais colaborativa. O seu texto daria início à série. Que tal?
Em 1999 escrevi sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e a nova identidade ao Ensino Médio. Posso te enviar se tiveres interesse. É sobre a “nova” lei e o que acontece nas escolas .
um abraço
Bernardete