10 de outubro de 2008

Cursos Técnicos – Uma estrutura curricular inovadora

 

A Germinal Consultoria tem significativa experiência em prestar assessoria no desenho e implementação de cursos técnicos de nivel médio. Parte dessa experiência foi obtida no Senac/Rio. A Germinal ajudou a definir e acompanhou toda a estratégia de desenho dos curriculos e de implementação dos cursos técnicos daquele  Regional do Senac. Já no primeiro movimento, em 2000, foram desenhados cerca de 30 diferentes cursos técnicos. A maioria desses cursos foi implementada em 2001 e continua, com aperfeiçoamentos, a ser oferecida até hoje (2008).

 

No desenho original, todos os cursos técnicos do Senac Rio foram desenvolvidos a partir de uma mesma estrutura  comum. Esta estrutura curricular concretizava um conjunto de inovações educacionais das quais tratamos em artigo anterior. Clique aqui para acessar o artigo. O texto postado a seguir difere um pouco daquele constante dos Planos de Cursos originais do Senac Rio. Também foi editado de uma forma diferente da publicação original.

 

A estrutura curricular dos cursos técnicos

 

“Dessa forma, um currículo para a qualificação ou habilitação de um técnico em uma área profissional, desenhado na perspectiva da construção de competências, é composto, essencialmente de um eixo de projetos, problemas e/ou desafios significativos do contexto produtivo da área, envolvendo situações simuladas ou, sempre que possível e preferencialmente reais. (…) Atividades de apropriação de conteúdos de suporte de bases tecnológicas, organizados em disciplinas ou não, e de acompanhamento, avaliação e assessoria às ações de desenvolvimento dos projetos, são programadas e convergem para esse eixo de currículo”. (MEC/SEMTEC, Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico, Brasília, DF, p.25.)

(Ilustração: Liang Wei, A Northern Trip, Oil on Canvas, 48″x60″)

 

Módulo I: O Núcleo Básico do Setor de Comércio e Serviços

Christina Bardram, Honey Burst, Oil on Canvas, 43,5"x20"

Todos os currículos dos cursos técnicos do Senac Rio fundam-se em três dimensões: ser pessoa, ser cidadão, ser profissional. Esses currículos são centrados em projetos. Basicamente dois tipos de projetos estruturam o currículo destes cursos. Um primeiro projeto e que é o mesmo para todos os cursos técnicos, é denominado Minha Vida, Minha Imagem, Meu Trabalho. Este projeto articula o Núcleo Básico do Setor de Comércio e Serviços e tem como produto individual, um livro sobre a vida passada, presente e futura do participante.

 

Núcleo Básico do Setor de Comércio e Serviços, detalhado a seguir, é comum a todos os cursos técnicos. Ele não é terminal e está dividido em duas partes. A primeira parte do Módulo I constitui a parte inicial de todos os cursos e o projeto Minha Vida, Minha Imagem e Meu Trabalho articula um conjunto de Workshops, como indicado abaixo:

 

Módulo I – primeira parte

 

 

 

Projeto: Minha Vida, Minha Imagem, Meu Trabalho

Workshop

C.H

Produtos

O Novo Mercado de Trabalho

9 horas

Contrato de aprendizagem

 

Código de Ética e Cidadania

 

Plano de Desenv. Pessoal e Profissional

 

Livro: Minha Vida, Meu Trabalho

 

Aprender a Aprender

12 h

Imagem Pessoal

8 h

Falar e Ouvir

4 h

Projeto

23 h

Total de horas da primeira parte

56 h

 

 

Colocada no início de todos os cursos técnicos, a primeira parte tem como produtos mais imediatos a definição de um contrato de aprendizagem e de um código coletivo de ética e cidadania. Ambos serão, ao final dos cursos, singularizados e incorporados ao livro de cada um dos participantes.

Christina Bardram, Tulip, Oil on Canvas, 16"x16"

 

 

Na segunda parte do Módulo I, o projeto articula um conjunto de Oficinas distribuídas ao longo do curso. Essas Oficinas focam setores emergentes de atividades terciárias e, em seu conjunto, buscam o desenvolvimento de competências básicas necessárias ao desempenho de todas as atividades de Comércio e Serviços.

 

 

 

 

Módulo I: Segunda Parte

OFICINAS

CARGA HORÁRIA

OFICINAS

CARGA HORÁRIA

INFORMÁTICA

28 HORAS

MEIO AMBIENTE

20 HORAS

ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO

20 HORAS

ATENDIMENTO AO CLIENTE

20 HORAS

COMUNICAÇÃO

20 HORAS

SAÚDE

20 HORAS

 

As Oficinas da segunda parte do Módulo I estão distribuídas entre os módulos posteriores e fazem parte da carga horária deles. Observe-se que, no entanto, o número de Oficinas varia (de 5 a 6) em função da área. Na área de Informática, por exemplo, a Oficina de Informática não é incluída no Núcleo Básico de Comércio e Serviços. Nesse caso, as competências a serem desenvolvidas pela Oficina, passam a ser desenvolvidas pelo Módulo II: o Núcleo Básico da Área de Informática. O mesmo é válido para a área de Saúde e para a Oficina de Saúde e para as demais oficinas que correspondem a uma área.

Liang Wei, Dancing, Oil on Canvas, 62"x50"

 

 

As competências desenvolvidas pelo Módulo I, dado seu nível de generalidade, são também importantes no existir individual e na convivência social. Nos cursos técnicos, os projetos estão ligados simultaneamente às três dimensões de desenvolvimento do participante: ser pessoa, ser cidadão, ser profissional.

 

Liang Wei, Aspen, Oil on Canvas, 27"x51"

 

 As aprendizagens referentes ao primeiro projeto são sistematizadas ao final de cada módulo posterior ao primeiro e também ao final do curso, culminando com a redação do livro Minha Vida, Meu Trabalho, onde cada participante registra as aprendizagens significativas produzidas pelas experiências e vivências proporcionadas pelo curso e projeta uma trajetória pessoal e profissional.

 

O livro embute um plano de desenvolvimento pessoal e profissional. Mesmo admitindo módulos terminais, visando qualificar em nível técnico e habilitar o técnico, o pressuposto subjacente é que a aprendizagem não se encerra no curso. Ele é um ponto de inflexão e de impulso em uma trajetória, posto que humana, imersa no aprender.

 

 

 

  

Módulo II: Núcleo Básico da Área

Malcolm Martin & Gaynor Dowling, 1000 openings, 2006-2007, Courtesy of Martin and Dowling Sarah Myerscough Fine Art, Collect 2008

Malcolm Martin & Gaynor Dowling, 1000 openings, 2006-2007, Courtesy of Martin and Dowling Sarah Myerscough Fine Art, Collect 2008

 

Além da parte comum a todos os cursos do setor de comércio e serviços, nos currículos dos cursos técnicos foi previsto um núcleo comum a todos os cursos de uma determinada área (Artes, Comunicação, Saúde, etc.). 

 

O Módulo II tem uma duração e uma composição curricular que é típica de cada área. Em geral, destina-se ao desenvolvimento das competências comuns àquela área de atividades profissionais. Os componentes curriculares e o desenvolvimento do Módulo II podem ou não estar articulados pelos outros tipos de projetos que funcionam como segundo elemento estruturante do currículo dos cursos técnicos. O Módulo II, quando presente como Núcleo Básico da Área, é especificado em cada Plano de Curso.

 

 

Módulos com Terminalidade (de III a N)

Gustav Klimt, Floresta de Faias, 1902

Gustav Klimt, Floresta de Faias, 1902

A partir do Módulo II, todos os demais são terminais. Conduzem a uma qualificação de nível técnico e/ou à habilitação do técnico. As ações educativas compreendidas pelos módulos terminais são articuladas por um segundo tipo de projetos. Os projetos agora são relacionados diretamente com a formação técnica objetivada pelo módulo.

 

Os projetos desse segundo tipo tratam de criar, transformar ou melhorar as atividades do Setor de Comércio e Serviços, onde atuará o profissional de nível técnico em formação.

 

Destinam-se a desafiar o participante e a problematizar o corpo de saberes já constituído. Estão no rumo da desconstrução do saber já pronto e do favorecer a construção do conhecimento e a incorporação das competências pelo aluno. Esses projetos serão relacionados com situações reais e objetivam mudanças efetivas nas formas de praticar o comércio e/ou de prestar serviços. Objetivam formar um agente de mudanças.

 

Em cursos técnicos de Educação Profissional e na perspectiva de formação do agente de mudança, a escola é um espaço insuficiente para a mudança proposta e para a conseqüente produção de conhecimento dela derivada. A ação do projeto tem que transcender os muros da escola. O espaço de aprendizagem precisa abranger as atividades produtivas e sociais reais onde as funções profissionais ganham sentido e o profissional a ser formado pode enfrentar os desafios e desenvolver as competências necessárias à tarefa de transformação.

 

Essa proposta transcende, em muito, a noção de estágio ou prática supervisionada. No estágio e na prática supervisionada, trata-se, no máximo, de aprender o trabalho tal como ele já está posto. Aqui, não. Trata-se de olhar a prática com olhos críticos. Uma crítica não derivada de uma teoria previamente assimilada e sim de uma teoria que se constrói na própria busca da transformação. Engajar os participantes em um processo de crítica e mudança, visando a melhoria das atividades terciárias e, com elas, a melhoria da qualidade de vida, é a característica comum dos projetos que articulam os módulos terminais dos cursos técnicos.

 

Um único projeto, dividido ou não em subprojetos, pode articular as ações educativas de todos os módulos terminais. Esses projetos ou subprojetos terão um produto específico e estarão destinados ao desenvolvimento das competências necessárias para o desempenho eficaz do profissional a ser qualificado em nível técnico.

 

Nos Planos de Curso são especificadas, em cada módulo, as ações educativas (oficinas, ciclo de pesquisas, workshops) que são articuladas pelo projeto. O próprio projeto e os subprojetos, quando houver, são neles definidos. Aos projetos e às ações educativas são também atribuídas cargas horárias mínimas que possibilitem manter uma unidade entre os diversos cursos desenvolvidos pela instituição educacional.

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