6 de abril de 2016

Em formação sobre Cidade Educadora, professores exploram a pé a região da Barra Funda

Danilo Mekari – Portal Aprendiz – 05/04/2016 – São Paulo, SP

A manhã do último sábado (2/4) reservou surpresas e descobertas para os 30 professores da rede municipal de educação de São Paulo que participam do curso “Potenciais educativos do território urbano: rumo à Cidade Educadora”. A segunda etapa do curso – elaborado após meses de encontros que envolveram a Diretoria Regional de Educação Ipiranga, além de escolas, coletivos, museus e organizações da sociedade civil – uniu os temas da mobilidade urbana e aprendizagem criativa e propôs uma série de desafios aos docentes.

O primeiro: sair a pé e em grupos pelas ruas da Barra Funda, para explorar o bairro em que se encontra a EMEI Antonio Figueiredo Amaral, que sediou o encontro. O segundo: criar uma representação estética daquilo que os professores viram, ouviram e sentiram durante as “missões” realizadas nas vias públicas. O terceiro: refletir sobre as possibilidades de aprendizagem que a rua e o entorno oferecem para a escola.

Um dos proponentes da atividade, ao lado do Instituto Catalisador, o coletivo Apé – Estudos em Mobilidade apresentou o projeto “Exploradores da Rua”, que estimula crianças a descobrir os arredores de suas escola, e apontou três características essenciais da iniciativa: trabalho em equipe, cooperação e atenção.

Para ajudar os docentes nas “missões” (conhecer vizinhos, observar texturas, registrar frases escritas nos muros, encontrar tesouros, entre outras), os organizadores levaram uma série de objetos e apetrechos como lupa, binóculo, cestas, pás, lanternas e mapas da região.

Durante meia hora, seis grupos percorreram as ruas do bairro com diferentes objetivos. Conversando com vizinhos, uma turma descobriu que havia por ali uma igreja centenária e que a região tem acolhido muitos imigrantes. Outros adentraram o Atelier da Alegria, após convite do proprietário do local.

Os professores ainda puderam reparar em uma gigantesca seringueira que ocupava praticamente a totalidade de uma pequena praça dos arredores. Suas raízes disputavam espaço com uma grade quebrada. “É um lugar tão rico e simbólico que poderia receber aulas de história, geografia e ciências”, observa Paulo Magalhães, professor da EMEF Duque de Caxias. Ele afirma que semanalmente leva seus alunos a locais como o Sesc Parque Dom Pedro II, o Museu Catavento e a Câmara Municipal. “Dá para trabalhar em variados âmbitos os detalhes que existem em qualquer rua da cidade.”

A existência de árvores frutíferas foi considerada um “tesouro” pelos participantes da atividade; o lixo e entulho espalhados pelas ruas também chamaram a atenção. Ainda na paisagem, as fachadas das casas antigas em contraste com os condomínios de muros altos revelavam as mudanças no território. “O bairro está sendo engolido. Uma casa com quintal já pode ser considerada rara por aqui”, afirmou uma professora. “É uma luta inglória, mas os moradores do bairro deveriam ao menos pressionar as construtoras para deixar o espaço comum mais agradável”, exclama Paulo Santiago, da Associação Novolhar.

Ao voltar para o espaço interno da escola, os professores usaram sucatas e diversos tipos de material para criar uma representação daquilo que observaram no espaço público. A atividade impulsionou uma discussão sobre os impactos de um trabalho pedagógico construído a partir do que meninos e meninas vivenciam na cidade.

Professora na EMEI Gabriel Prestes, localizada no centro de São Paulo, Edna Monteiro apontou que “não é preciso ter biblioteca e museu para que a escola explore o território”. Os integrantes do Apé concordam. “Trabalhar em qualquer bairro faz sentido, pois todos os locais têm histórias e pessoas para contá-las”, argumentou Julia Anversa, ressaltando a necessidade de se trabalhar a cidade do jeito que ela é: um lugar de convivência e também de conflito.

O papel da família como parceira e colaboradora da escola também teve destaque durante os debates, assim como as reações e mudanças provocadas pela presença de crianças nos espaços públicos. Os educadores relataram que a aproximação realizada com mães e pais para assegurar o direito das crianças à cidade vem gerando resultados positivos. Em muitos casos, embora tenha havido resistência inicial, à medida que os familiares passaram a se envolver com a proposta educativa, estabeleceu-se a confiança necessária para que a escola incorporasse essas estratégias em seu dia a dia.

Currículo na rua

Mas como articular o que a cidade oferece com o currículo da escola? Foi essa a provocação do Instituto Catalisador, ao falar sobre aprendizagem criativa na rua para os professores. Resgatando os princípios da cultura maker, a organização falou sobre a importância de estendermos as explorações sensoriais, a diversificação de linguagens e a ampliação de espaços e tempos, elementos presentes na educação infantil, para as outras etapas de ensino.

Para Simone Lederman, é a partir dessa perspectiva que a rua emerge como ambiente significativo e propício a uma aprendizagem transdisciplinar. “Na rua, as diferentes linguagens comparecem em pleno acontecimento, sem intenções necessariamente didáticas. Natureza, topografia, palavras, textos, números, construções e manifestações artísticas convivem organicamente.”

O próximo encontro do curso “Potenciais educativos do território urbano: rumo à Cidade Educadora” acontece no dia 30/4 (sábado), na EMEI Armando de Arruda Pereira, na Praça da República, e contará com a facilitação do Movimento Entusiasmo e da UMAPaz.

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