16 de agosto de 2011

Ainda sobre o Ensino Médio

 Em muitos artigos publicados no Blog Germinal – Educação e Trabalho, temos tratado do currículo do Ensino Médio. Entendemos currículo como todas as experiências formais e informais de aprendizagem previstas ou produzidas em um determinado contexto social ou institucional. Entendido assim, o tema é bastante abrangente e complexo. Sobre ele existem muitas dúvidas. Mas, sobre ele já temos algumas certezas.

 

É certo e amplamente discutido que o ensino médio não atende as necessidades de seus alunos. É amplamente divulgado, especialmente nos meios empresariais, que o Ensino Médio não atende às necessidades do mercado de trabalho. É inquestionável, para todos os matizes ideológicos e para todos os que se aproximam do assunto, que o ensino médio está distante de atender as necessidades de preparação da juventude para enfrentar os problemas propostos pela sociedade contemporânea. É quase consenso que não temos, no mundo, caminhos seguros para uma nova escola secundária.

 

Então, o espaço está aberto para a criação. Nas artes, a criação antecipa e estimula as tendências. No mundo das necessidades, as inovações são exigidas pela ruína das velhas estruturas. Esse é o caso do ensino médio no Brasil ou da educação secundária no mundo. Não é uma questão de querer mudar. A mudança é imposta. A mudança é necessária e urgente. É preciso mudar.

 

Quando a necessidade de mudar emerge, é necessário um olhar renovado sobre os fundamentos. Toda mudança é feita a partir do que já está estabelecido. Mesmo nas revoluções ou nas grandes conquistas das civilizações em expansão, a nova sociedade é construída sobre as pedras da antiga.

 

Observe, então, os fundamentos do Ensino Médio. Na educação secundária brasileira ou mundial, quais são os grandes fundamentos? Qual desses fundamentos, que destruído, poderia ser a pedra angular da construção nova? Como a nova estrutura pode ser erigida a partir dos escombros da antiga? O que a antiga estrutura reprime? O que pode ser impulsionar uma escola nova?

 

Alguns dizem que é preciso mais recursos e que a educação deve ser prioridade nacional. Outros dizem que precisamos de novos professores. Alguns dizem que o problema reside nas teorias educacionais equivocadas. Outros dizem que precisamos de famílias que se preocupem com a educação de seus filhos. Outros dizem que…

 

Concordamos com os que dizem que a mudança educacional necessária é uma questão de recursos. Mas, falamos também de um tipo especial de recurso. Existe nos escombros da atual educação média um imenso potencial de recursos não aproveitados e até reprimidos. Falamos da energia juvenil.

 

Os números exatos não importam muito. Mas, hoje, só no Brasil, temos cerca de nove milhões de jovens sentados durante quatro ou mais horas por dia ouvindo um professor falar sobre coisas que vão ser certamente esquecidas. Em termos econômicos, são 28 milhões de homens/ horas/ dia consumidas em um enorme exercício de obediência e de paciência. Horas consumidas na expectativa de passar no vestibular para uma universidade que vai exigir a mesmo exercício e oferecer a mesma promessa: um emprego promissor.

 

Esse exercício monumental deveria pelo menos produzir a paciência e a obediência que são seus pilares.  Hoje, isso não é tão certo. O exagero na dose pode transformar o remédio em veneno. Os jovens detestam as aulas e mesmo com o atrativo da convivência com outros jovens, começam a abandonar a escola.  A violência escolar e as revoltas juvenis são cada vez mais frequentes.  Também na outra ponta, no mercado de trabalho que deveria receber esses jovens, a subserviência é questionada. Dizem que ela não é mais tão necessária como “virtude” do trabalhador na manutenção e no avanço de uma sociedade capitalista avançada. É um consenso pelo menos retórico que o avanço econômico na “sociedade do conhecimento” requer a iniciativa e a criatividade do trabalhador.

 

Propomos que o novo ensino médio seja construído a partir da liberação da energia juvenil. Isso significa convidar o jovem a participar da construção da nova escola.

 

Mas, o espaço escolar é muito limitado para a aplicação de tanta energia requerida. É preciso que a construção da nova escola preveja a participação do jovem na transformação da comunidade e da sociedade em que vive. Junto com o jovem, é preciso derrubar os muros da escola e transformá-la em instrumento de desenvolvimento econômico, cultural, científico e tecnológico da comunidade que a abriga.

 

Esse é um desafio do tamanho da energia reprimida.

 

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