1 de junho de 2012

Currículo deve ser direcionado para a emancipação do cidadão

Repensar, rediscutir, reconstruir um currículo educacional implantado há anos por uma política capitalista que visa a formação do trabalhador em busca de lucros. Essa tarefa nada fácil e desafiadora foi levantada durante o Observatório Mundial 3: Ressignificação de Currículo na Educação Profissional e Tecnológica no Brasil.

Os debatedores foram incisivos: é preciso trabalhar na emancipação do cidadão, formar o pensamento crítico, ressignificar valores pautados em currículos escolares, entender as expectativas sociais e preparar o aluno para a vida.

Segundo a doutora em Literatura e professora da Universidade de Manitoba (Canadá), Diana Brydon, projetos de pesquisa entre o Brasil e Canadá promovem a interdisciplinaridade em um mundo global. “Aprender com outras culturas, outras línguas, promove uma emancipação do descobrir-se autônomo para um aprendizado recíproco. As nossas metas entre a parceria Brasil-Canadá são: a) Fortalecer a alfabetização transnacional; b) treinar professores para a teoria e a prática; c) avançar nos relacionamentos entre os dois países; d) compreensão global na educação; e) fazer parcerias de trabalho transnacional e internacional”, disse.

O aprender outro idioma ensina as pessoas a saírem da zona de conforto e entenderem a cultura e a forma de pensar do outro, pois “um novo mundo é necessário, mas a educação tem que mudar”, completou Diana.

Ao refletir sobre os significados e seus valores no currículo em EPT, a doutora em Educação e professora da pós-graduação em Educação na UFF Maria Aparecida Ciavatta levantou a necessidade de analisar os valores educacionais. “Estamos preparando o jovem para o trabalho simples, que é destinado aos mais pobres. A busca do conhecimento deve promover a interação entre professor-aluno para que as políticas educacionais de EPT no Brasil atendam os direitos de cidadania aos trabalhadores com um currículo voltado à formação humana integral”.

Para o doutor em Educação e pesquisador do laboratório de Políticas Públicas e Planejamento Educacional da Unicamp, Luis Aguilar, a reformulação da Rede Federal, em especial dos Institutos Federais, possibilita um novo modelo institucional redefinindo a finalidade dessas instituições dentro do sistema educacional brasileiro. “O currículo diferenciado dos IFs se aproxima mais do povo, porém as expectativas sociais nem sempre passam pela cabeça dos acadêmicos. É preciso abrir as portas, estudar o mercado e as questões curriculares, mas isso não pode fechar as portas desses brasileiros que querem estudar, que sempre quiseram estudar e que agora têm uma oportunidade”.

O coordenador do projeto Protótipos Curriculares de Ensino Médio e Ensino Médio Integrado da Unesco, José Küller, apresentou uma ideia inovadora para a educação no Brasil: uma proposta curricular que prepara o aluno para o trabalho, mas para a possibilidade de desenvolver todo e qualquer tipo de trabalho tamanha a abrangência do conhecimento construído. “Propomos ações anuais desenvolvidas por um Núcleo que integre trabalho/cultura/ciência/tecnologia. Escola e Moradia como Ambiente de Aprendizagem o tema a ser trabalhado no 1º ano; Ação Comunitária no 2º ano e Projetos de Vida e Sociedade no 3º ano”, explicou ele.

Todas as ideias e propostas caminham para que uma análise profunda seja feita na reconstrução do currículo da educação profissional e tecnológica no Brasil. Uma atitude ousada, instigante, complexa, mas necessária. (Nicole Trevisol)

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