31 de maio de 2009

Educadores do Brasil: Maurício Tragtenberg

Postamos abaixo pequenos excetos de um artigo de Antônio Ozaí da Silva: Maurício Tragtenberg e a Pedagógia Libertária. O texto começa assim:

Nosso objetivo é resgatar o pensamento político-pedagógico de Maurício Tragtenberg. De um lado, a crítica incisiva que desvenda o modelo pedagógico burocrático fundado na vigilância e na punição, na relação de dominação, no saber formal transformado em mercadoria de consumo, uma pedagogia que predomina na maioria das nossa escolas e universidades. De outro, o itinerário de uma alternativa pedagógica libertária, recuperada e sintetizada na práxis do educador contemporâneo. No final do percurso, a certeza da sua atualidade.
Alguns excertos do desenvolvimento do trabalho de Ozaí:
“A fusão de um saber, constantemente acumulado e renovado pela própria natureza da instituição escolar, com as técnicas disciplinadoras-burocráticas herdados dos presídios avultam os efeitos da concentração do poder de dominação e controle. A escola, através do saber, aperfeiçoa os meios de controle, podendo dar-se ao luxo de dispensar o recurso à força. A própria prática de ensino pedagógica-burocrática permite-o, na medida em que reduz o aluno ao papel de mero receptáculo de conhecimento, fixa uma hierarquia rígida e burocrática na qual o principal interessado encontra-se numa posição submissa e desenvolve meios para manter o aluno sob vigilância permanente (diário de classe, boletins individuais de avaliação, uso de uniformes modelos, disposição das carteiras na sala de aula, culto à obediência, à superioridade do professor etc.).
Nesta estrutura escolar, o poder de punir é legitimado e concebido como natural. Como salienta Tragtenberg: “Na escola, ser observado, olhado, contado detalhadamente passa a ser um meio de controle, de dominação, um método para documentar individualidades. A criação desse campo documentário permitiu a entrada do indivíduo no campo do saber e, logicamente, um novo tipo de poder emergiu sobre os corpos”. (Idem)”
(…)
“Os próprios alunos se tornam agentes fomentadores deste sistema pedagógico. Imbuídos dos valores que enfatizam o individualismo e não a coletividade, a competição e não a solidariedade, a autoridade e não a liberdade, o saber formal-professoral e não o saber como algo socialmente construído, doutrinados e viciados desde a infância em procedimentos que ora legitimam a pedagogia-burocrática, ora são formas negativas de resistência, os alunos têm dificuldades de assumirem-se enquanto sujeitos ativos do processo educativo, em estabelecer uma relação não-autoritária com seus professores, em desenvolverem processos de aprendizagem que objetivem a produção do conhecimento e não apenas a memorização de conteúdos.”
(…)
“A alternativa pedagógica libertária
Não sejamos pessimistas. Se a realidade atual exacerba os elementos críticos da pedagogia burocrática apontados por Tragtenberg, ainda é possível pensar e agir de forma diferenciada. O mestre nos oferece as pistas para uma nova pedagogia fundada na solidariedade, na autonomia e liberdade dos indivíduos e na autogestão. Trata-se da reapropriação do saber pelos trabalhadores, de desnudá-lo e resgatar seu caráter social e coletivo. Não mais o saber formal ingressado pela instituição escolar: a própria escola precisa ser transformada.”
Por fim um excerto da conclusão:

“Tragtenberg firma-se pelo exemplo de coerência entre o discurso e a prática. Seu relacionamento com os sindicalistas combativos, as oposições sindicais, os trabalhadores e seus colegas de trabalho e os estudante comprova-o. Seus artigos na coluna “Batente” e em outros jornais revelam uma permanente valorização do conhecimento operário, uma constante disposição, rara entre nossos intelectuais, de ‘dar uma força’, de servi-lo. Seu carinho e dedicação aos intelectuais orgânicos dos trabalhadores é outra prova viva de uma pedagogia fundada na verdade e na convicção de que os indivíduos são capazes de se apropriarem do saber.”

Informamos que as ilustrações foram incluídas por nós. Para quem a leitura desses excertos sobre Maurício Tragtenberg foi estimulante, o acesso ao texto integral pode ser obtido clicando aqui.

Compartilhar em:

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados *

Postar Comentário

Artigos relacionados