Andrea Rangel – O Globo – 30/08/2014 – Rio de Janeiro, RJ
Nada de grades ou salas padronizadas. O ambiente que será montado na Escola Sesc de Ensino Médio, em Jacarepaguá, para sediar o encontro internacional Educação 360 chamará a atenção para as diversas possibilidades que podem estimular a criatividade e o sentimento de bem estar dos alunos. Para o evento, foram concebidos sete espaços e uma instalação, que será projetada sobre um lago artificial, fazendo referência a uma sala de aula.
O encontro, que acontece nos dias 5 e 6 de setembro, é uma realização de O GLOBO e “Extra”, em parceria com Sesc, Prefeitura do Rio e Fundação Getulio Vargas, com apoio do Canal Futura. O evento terá conferências, mesas plenárias e apresentação de projetos inovadores, reunindo teóricos, professores, jornalistas, gestores e estudantes (veja a programação toda na página ao lado).
Segundo o educador e coordenador da Global Education Leaders (Gelp) no Brasil, Rafael Parente, os cenários do encontro fazem sugestões a serem adotadas por escolas.
— Há trabalhos que exigem concentração do aluno e atividades coletivas. E os móveis e a estrutura da escola precisam facilitar essa flexibilidade. Acho importante também que o espaço estimule o bom humor do aluno. As paredes de uma escola podem ser ilustradas com frases inspiradoras, por exemplo — afirma Parente, que será mediador da mesa plenária “Grandes tendências para a transformação da educação”.
No “Espaço de aprendizagem”, o público vai encontrar carteiras múltiplas num cenário onde as quatro paredes reproduzem quadros negros. Segundo Parente, as carteiras individuais fazem parte de um modelo de ensino ultrapassado, marcado pela transmissão de conhecimento.
— O especialista ficava na frente da sala transmitindo informações e a turma, calada, deveria apenas ouvir a anotar tudo o que era falado — critica Parente, que enfatiza: — A aprendizagem deve acontecer através do diálogo.
O arquiteto Paulo Neves, que participou da concepção do projeto, afirma que os quadros negros nas quatro paredes e o teto do espaço representam justamente o questionamento do educador sobre o que deveria ser uma sala de aula.
— O que é uma sala de aula? Nós tiramos o quadro negro do lugar para levantar essa discussão. E o quadro está nos quatro cantos da sala, é onipresente, representa os múltiplos caminhos que levam ao conhecimento.
O auditório principal tem capacidade para 600 pessoas. E no espaço “O ensino & o indivíduo”, as cadeiras da plateia são colocadas dentro de caixas com diferentes revestimentos, representando a individualidade de cada aluno, que deve ser respeitada. No pilotis, o público vai encontrar diferentes cérebros cenográficos no espaço “Inteligências múltiplas”.
Ambiente como estímulo
Já no espaço “Você é o Conteúdo”, o público é convidado a ser autor do seu próprio jornal. Ao digitar um texto em um dos computadores espalhados pelos totens da sala, cada participante terá o resultado do seu trabalho diagramado na tela.
Um dos estudos de caso do Educação 360 irá tratar exatamente de projetos de escolas que levam em conta os desejos e as potencialidades da comunidade local. A discussão ficará a cargo da arquiteta Beatriz Goulart. Para ela, o ambiente de uma escola é capaz de estimular a aprendizagem.
— O aluno pode decidir qual será a cor de sua escola. Com a supervisão de um artista plástico, eles podem criar murais de grafite e estêncil. E não podemos ter ambientes monótonos, temos que reproduzir na escola a variedade espacial que o aluno encontra na vida. Não podemos separar a escola da vida — destaca Beatriz.
Cada vez mais, segundo a arquiteta, a realidade local é incorporada ao projeto de uma escola. A iluminação natural, por exemplo, é aproveitada por arquitetos por meio de projetos que valorizam o vidro e os espaços a céu aberto. Através da escolha de materiais de construção locais e ocupação dos espaços livres, também é possível integrar a escola às características da região onde se situa.
— O clima também deve ser levado em conta. Uma escola num local com temperatura elevada não pode ter o mesmo projeto de outra localizada à beira-mar — afirma Beatriz. — Se você construir a escola numa região cheia de jaqueiras, é importante que elas sejam mantidas no projeto. A escola não precisa ser apenas bonita, tem que fazer sentido para aquela gente — conclui.
Beatriz, que há 30 anos pesquisa ambientes educativos, lamenta o descaso com que professores e gestores encaram o espaço ao ar livre.
— As áreas verdes estão se transformando em laboratórios de informática. Os espaços ao ar livre são igualmente importantes e devem ser bem cuidados. Não há jardineiros na maior parte das escolas — critica Beatriz