Quem vai ensinar – e o quê – aos alunos do século XXI?
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Por Caio Barreto Briso, Kleyson Barbosa, Luís Guilherme Barrucho e Sofia Krause
“Uma sala de aula com carteiras enfileiradas diante de um quadro negro. Os alunos, calados, prestam atenção no professor. Memorize esta cena: ela está com os dias contados. A entrada das novas tecnologias digitais na sala de aula criou um paradigma na educação: como tais ferramentas, que os alunos, não raro, já dominam, podem ser aproveitadas por professores que, frequentemente, mal as conhecem? As escolas têm, pela frente, um desafio e uma oportunidade. O desafio: formular um projeto pedagógico que contemple as inovações tecnológicas e promova a interatividade dos alunos. A oportunidade: deixar para trás um modelo de ensino que se tornou obsoleto no século XXI” (clique no título acima da foto para ver a matéria completa).
Com o título, a ilustração e o parágrafo acima incluídos, a Revista Veja, edição de 25 de março de 2009, inicia um artigo sobre a escola do futuro.
O que chama atenção, neste início de artigo, é a contradição entre foto e texto. A foto contradiz, ponto a ponto, o texto.
A sala com carteiras enfileiradas, onde alunos, calados, prestam atenção no professor, não está com os dias contados. A foto mostra que a tecnologia não muda o paradigma tradicional. O professor continua no centro da cena.
É verdade que os alunos podem, em suas carteiras digitais, acompanhar de perto o que está sendo apresentado na lousa digital. Podem não olhar para o professor, mas todos olham para o que ele está apresentando. No essencial, a foto mostra que nada muda. Mais que isso. A tecnologia é usada para fixar o paradigma tradicional.
O dispositivo arquitetônico instalado para dar suporte às telas dos computadores reforça e fixa o arranjo em auditório. As enormes bancadas fixas, criando dois níveis, impedem outros arranjos da sala. Isso dificulta o desenvolvimento de um conjunto de atividades pertinentes à uma Aprendizagem Criativa.
Parece que não será a tecnologia da informação que mudará um modelo pedagógico que está profundamente incrustado no “inconsciente coletivo” de nossa sociedade e de nossos educadores. A fixação em um dispositivo arquitetônico é apenas um exemplo.
Para aprofundar a discussão em relação à fixação dos modelos arquitetônicos, veja o artigo de meu amigo Jarbas Novelino Barato “Prédios e equipamentos escolares ensinam”, no blog Boteco Escola. Leiam também o post deste blog: Arquitetura escolar e Aprendizagem Criativa.
6 Comentários
ESTUDANTES PARAENSES: OS CRIADORES DA SALA DE BATE-PAPO
OU
PROIBIR APARELHO ELETRÔNICO NA SALA DE AULA, ACHO, TER MUITO DE TOLICE
Nascimento, J. B. /UFPA, 05/09
http://www.cultura.ufpa.br/matematica/?pagina=jbn,
Vendo-se essa quase naturalidade com que as pessoas hoje usam, a diversidade de aplicações e até os bilhões de recurso financeiro movimentados por esses meios tecnológicos de transmissão de mensagem, uma pergunta pertinente quase não se faz: onde isso nasceu? Muitos hão de dizer que é apenas atualizações de outros. Entretanto, para educação tal resposta exige exibir um exemplo prático dos que faziam isso, em sala de aula, que é o lócus do educacional, e de forma natural.
Pois bem. Já viajei por muitos lugares do Brasil e convivi com muitos estudantes e atualmente ensino na UFPA. Sendo que dois fatos chamaram a minha atenção. O primeiro foi quando uma aluna trouxe para sala de aula, já que discutiríamos um pouco dos conteúdos da escola primária, um livro que ela usou quando adolescente. E, ao abri-lo encontrei um ¨bilhetim¨ composto de várias mensagens. Nesse era visível que cada uma era feita por pessoas diferentes, tal qual encontramos hoje em área de comentários de blogs, etc.
O segundo mini-fato é que já tinha ouvido diversos docentes aborrecidos com essa história dos alunos ficarem trocando bilhetes no decorrer das aulas. Digo assim, pois nunca antes tinha percebido nada, quando lecionava a mais de ano na UFPa. Como passei observar isto, diversas olhadas deixaram claro que nunca foi um caso isolado, mas um processo historicamente estabelecido e como nunca ¨interceptei¨ nenhum, diria que alguns correm mais rápidos do que água do rio guamá, não posso acusar haver intenção deliberada de prejudicar o andamento da aula. Credito mais ser crítica pertinente e informações banais.
Nessa hora, o que mais precisa fazer o educador é refletir nos meios que possa transpor isso para ajudá-lo desenvolver os conteúdos. A última coisa a ser feito, pois vai contra a natureza destes, quando isso é o último recurso educativo, é proibir. Aborrecimento por isso nunca tive, pois sempre há coisas piores acontecendo, como alunos falando nos corredores por haver docente faltado, livros de até US$ 60 sendo jogado no lixo, quando na biblioteca quase não há o que precisa, etc. E, acho, essas leis estaduais cassando, mandando diretor caçar, tais aparelhos d(n)a sala de aula ter muito de pernóstico. Mais ainda no Pará, sancionada que foi pela Governadora Ana Júlia (PT) a Lei 7.269, 07/05/09.
E o pernicioso nisso sempre foi a nossa falta de reflexão nos centros de formação docente e que, portanto, não produzimos métodos e processos de integração de tais aparelhos ao cotidiano escolar. Porquanto, tais leis fazem com que ao mesmo tempo, e em muitas das vezes, enquanto nas salas esteja ocorrendo aulas recheadas até de pobreza, um rico aparelho nem vibre no fundo de uma gaveta da secretaria da escola. Pelo contrário, acho que a Seduc-Pa já deveria ter um arquivo com material de interesse escolar para que o aluno pudesse, com a orientação docente, acessar, ler e/ou assistir no visor do seu celular. Assim como, toda vez que faltasse docente, por exemplo, o aluno poderia ir pegar um aparelho na secretaria só para assistir alguns desses.
Ou seja, já que gostam tanto de ¨bilhetar-se¨, não há de aborrecê-los que nos seus aparelhos apareçam alguns que tragam informações de interesse escolar, como do tipo: ¨dois ângulos são ditos complementares quando sua soma é 90º, i.e, x e y são complementares quando x + y = 90º .¨ E, senhores educadores, por favor, não esqueçam que essas crianças vão viver mais intensamente no futuro delas e muito do que farão não é necessariamente o que gostamos hoje, que queiramos ou não.
Alô Kuller,
Você pegou um dos aspectos que mais precisam de discussão no campo das relações entre arquitetura e educação. Vendedores de equipamentos modernosos prometem mudança a partir da compra de suas bugigangas. Pais e escolas acreditam. Investem. Mas não percebem que mudanças ambientais e societárias que precisam ser operadas para que as maravilhosas máquinas sejam usadas com ganhos significativos em termos de aprendizagem. O contraste entre o que a Veja diz (conversa de vendedores) e o que mostra clareia tudo.
A partir da leitura deste post, resolvi propor uma blogagem coletiva sobre arquitetura e educação. Escrevi um post-convocação lá no Boteco. Insisti com alguns de meus amigos da blogosfera para que participem. Vou insistir com mais outros. Sugiro que você faça uma convocatória aqui no Germinal e liste alguns convidados mais chegados a você.
Ah! Minha convocatória pode ser encontrada em:
http://jarbas.wordpress.com/2009/03/30/arquitetura-e-educacao-blogagem-coletiva/
Abraço, Jarbas.
Opa José Antônio,
Coreetíssima sua análise. Só a tecnologia nos mesmos paradigmas não muda a educação… Assim como só a tecnologia sem formação continuada dos professores.
É realmente necessário mudar o paradigma da educação e, só então pensarmos em como as tecnologias podem contribuir para que este novo paradigma seja mais efetivo.
abração
Sérgio Lima
Muito apropriado, professor. Como diz uma amiga:”Não adianta o botox, se as rugas estão na mente…”